Carlos Moreira

Na sociedade da imagem, o que importa é causar impacto logo na partida, pois o senso comum afirma que “a primeira impressão é a que fica”. Mesmo que tudo seja uma farsa, é melhor parecer sem ser do que ser e não aparecer.

Esse também é um tempo de busca por resultados: acionistas esperam resultados, clientes desejam resultados, o mercado projeta resultados. As pessoas não pensam, apenas executam. Ninguém se pergunta: “por que isso está sendo feito?”. Ao contrário, afirmam: “tem que ser feito, está na programação!”.
 
Essa dinâmica produziu um fenômeno ligado à fé: o evangelho burocrático. Ele transformou a igreja numa fábrica e os discípulos em trabalhadores. No evangelho burocrático a mudança da vida não é algo imprescindível, pois é possível viver apenas uma projeção. O que se requer é tão somente o engajamento do indivíduo na linha de produção da igreja-fábrica, de tal forma que ele siga as rotinas da religião, e isso sem questionar nada. É o “fordismo” cristão!
 
Esse “trabalhador”, então, passa a se envolver em campanhas, obras sociais, ministérios para-eclesiásticos e na evangelização, todas tarefas que movem a “engrenagem”. A grande maioria, todavia, produz ações inócuas, pois as realizam sem as motivações corretas para fazê-las. É que mudar a agenda não implica em mudar a consciência! De que adianta cumprir a grade da programação e, fora dela, a vida continuar seguindo insólita?   
 
Essa neurose obsessiva em realizar se faz acompanhar por aquilo que chamo de “síndrome do camaleão”. Trata-se de uma metamorfose epidérmica, calcada na imagem. As mudanças são condicionadas, estão associadas a contextos, ambientes, etc. É a fé teatralizada, que se adéqua as demandas sociais, que “posa para a foto”, porém, fora dessa ambiência, a vida agoniza em meio a desencontros pessoais, desarranjos familiares e desvios profissionais. 
 
Ora, a proposta do Evangelho tem a ver com a ressignificação da vida, não com a realização de um trabalho! Deus não está atrás de trabalhadores, mas de adoradores. E adoração não é algo associado a nenhuma arquetipia estética, ou a geografias do sagrado – “nem neste monte nem em Jerusalém” – mas ao que acontece “em espírito e em verdade”, no chão da Terra, em qualquer lugar e em todo tempo, pois o altar é o coração e o culto é a vida! Além disso, tem que ser expressa em absoluta verdade, pois toda performance que se constitui estelionato do ser é abominação a Deus.   
 
Alguém já afirmou que o caminho de todo discípulo é uma maratona, não uma corrida de cem metros. Mais importante do que começar bem, é terminar bem. Muitos começam bem, mas terminam mal! Talvez por isso o sábio do Eclesiastes afirme: “o fim das coisas é melhor do que o seu início...”. Ec. 7:8. Nas palavras de Paulo, seria como dizer: “combati o bom combate, completei a carreira e guardei a fé”. Assim, mais importante do que contabilizar “o que você fez”, é saber “por que você fez”.
 
“O que vale na vida não é o ponto de partida e sim a caminhada. Caminhando e semeando, no fim terás o que colher...”. Cora Coralina. Estou certo de que, ao final da jornada, quando o Senhor me chamar, tudo o que me tornei será registrado em uma “lousa de bronze”. Nela constará aquilo que, em Deus, eu conquistei, o que o Espírito produziu em mim. Essa será a minha glória, representará o mais perto que eu consegui chegar da estatura de Jesus, o meu Senhor.
 
E assim, olhando desta perspectiva e pensando na eternidade como a fronteira mais avançada, a última impressão é a que fica, e não a primeira, pois o mais relevante na soma das ambiguidades da vida é quem você se tornou e não o que você fez.


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