Efésios 2.1-10
 
Introdução
 
O que torna o Cristianismo diferente de todas as religiões do mundo? Em uma conferência, alguns argumentaram que o Cristianismo é único devido ao ensinamento de que Deus se tornou homem. Mas alguém objetou, dizendo que outras religiões ensinam coisas semelhantes. Outros disseram que a diferença estava na ressurreição. Mas foi argumentado que outras religiões acreditam que os mortos ressuscitam. O debate cresceu quando C. S. Lewis, chegando atrasado para o debate, perguntou de que assunto se tratava a discussão. Quando soube que era um debate sobre a singularidade do Cristianismo, ele imediatamente comentou: “Isso é fácil. É a graça”.
 
O objetivo geral de refletirmos sobre a graça de Deus, aquilo que Ele fez por nós na pessoa de Jesus, é trabalharmos para nos tornar as pessoas que Deus quer que sejamos. É isso que encontramos em Efésios 2.1-10.
 
No primeiro capítulo de Efésios, Paulo concentra-se nas instruções para a vida cristã. Primeiro, nos versículos 1-14, ele estabelece a base para a vida cristã: a nossa identidade em Cristo. Em seguida, nos versos 15-23, ele trata da questão essencial para uma vida centrada em Cristo: o conhecimento da esperança da vocação cristã e quais as riquezas da glória da herança de Cristo nos santos. Chegando aos 10 primeiros versículos do capítulo 2, Paulo coloca os holofotes sobre a graça de Deus, para que não esqueçamos como é que alcançamos tudo isso. Isto é importante porque a nossa capacidade de ver a nós mesmos da maneira como Deus nos vê, a nossa capacidade de tratar as pessoas do jeito como Deus quer que as tratemos e a nossa capacidade de nos abrirmos para o trabalho que Deus vem operando dentro de nós depende em grande medida da nossa capacidade de manter uma visão contínua da graça de Deus em nossas vidas.
 
Num sentido conceitual, graça é o favor imerecido de Deus por nós. É Deus fazendo por nós o que não podemos fazer por nós mesmos. E é isso que encontramos em nossa passagem. Especificamente encontramos no texto duas coisas: o porquê da graça e os seus efeitos em nossa vida e a finalidade da graça. Assim, dividimos essa reflexão em três sessões: por que e para que da graça.
 
1. A condição do homem sem a Graça (v. 1-3)
 
A vida do homem fora da graça de Deus é marcada pelo pecado. Pecado é uma palavra que significa cair dos padrões perfeitos de Deus para nossas vidas. Por causa do pecado, nós mentimos, enganamos, temos maus desejos, roubamos, cobiçamos, nos auto-promovemos. Não são apenas os atos exteriores do pecado que nos levam a ficar aquém dos padrões de Deus. Pior ainda é a tendência interna que nos leva a fazer estas coisas em primeiro lugar, a tendência de nos rebelarmos contra Deus e seguir o nosso próprio caminho ao invés do Dele.
 
Nos versículos 1 a 3 mostra a condição do homem sem a graça de Deus. O verso 1 aponta: “Vocês estavam mortos em seus delitos e pecados”. Esta é a condição espiritual causada pelo pecado: morte espiritual. É importante compreendermos que a pessoa não acorda um dia e torna-se espiritualmente morta. Pelo contrário, esta é a nossa condição de nascimento. Desde que os primeiros seres humanos se rebelaram contra Deus, cada ser humano nascido depois, nasce em pecado. Certamente eu era, diz o salmista, a partir do momento que minha mãe me concebeu (Sl 51.5). Em outras palavras, nós herdamos uma natureza pecaminosa de Adão e Eva. Então, porque cada ser humano nasce em pecado, todo ser humano nasce morto espiritualmente.
 
O texto aqui diz que o homem sem o alcance da graça de Deus está morto para Deus, morto para as coisas espirituais, morto para a alegria e paz interior e, finalmente, morto para tudo que é bom. Uma pessoa espiritualmente morta é alienada de Deus e, portanto, alienada da vida. Esse é o problema básico da humanidade. Nosso problema básico não é estar fora de harmonia conosco mesmos ou com nosso meio ambiente ou com o nosso universo. Nosso problema básico é estar fora da harmonia com o nosso Criador. Isaías 59.2 diz: “As vossas iniqüidades fazem separação entre vós e vosso Deus”.
 
O versículo 2 mostra que nesses delitos e pecados andamos outrora, “segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe da potestade do ar, do espírito que agora atua nos filhos da desobediência”. Neste ponto, Paulo explica o caminho do pecado, o curso que ele segue em nossa vida. Paulo mostra que a primeira direção é em um nível superficial, o curso deste mundo. Trata-se aqui do sistema deste mundo, seus valores e sua maneira de fazer as coisas, caracterizado, por exemplo, pelo humanismo, que coloca o homem acima de tudo, ou o materialismo, que coloca as coisas acima de tudo, ou pelo naturalismo, que coloca o meio ambiente acima de tudo. O curso do mundo, sob qualquer aspecto, choca-se e exclui Deus.
 
O motivo para este choque, esta oposição, é porque o sistema deste mundo em um nível mais profundo é alimentado por uma personalidade. Paulo refere-se a ela como “o príncipe da potestade do ar, do espírito que agora atua nos filhos da desobediência”. Ao contrário do pensamento popular, Satanás não é um homem vermelho com longos chifres, um rabo pontudo e um tridente nas mãos, tendo sua morada no inferno. Satanás não está no inferno. Ele nem mesmo quer ir para lá. Segundo a Bíblia, chegará o dia em que ele será lançado no inferno, onde será atormentado eternamente. Até aquele dia, ele não está lá e sim aqui. Ele é referido como “o deus deste século” ( 2Co 4.4). Aqui na carta aos efésios, ele é apontado como o cérebro por trás dessa rebelião contra Deus. Então, se as pessoas percebem ou não, quando elas andam em sincronia com os caminhos deste mundo, estão em sincronia com o próprio diabo, que está levando-as para a morte.
 
Quando olhamos para o versículo 3, observamos a conduta de pecado. Ele diz que o caminho do pecado age segundo “as inclinações da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos”. O curso do pecado refere-se ao caminho comum da humanidade. A conduta do pecado refere-se à vida individual de cada pessoa. Não só a raça humana segue um caminho que é contrário a Deus, mas cada um faz suas escolhas pessoais que são contrárias a Deus. Todos nós, diz Paulo, antes de conhecer Jesus, vivia para satisfazer as vontades da nossa natureza pecaminosa. Isto significa que fomos levados a cumprir todos os nossos impulsos, obrigados a seguir as nossas inclinações pecaminosas, determinados a viver e andar em rebelião contra o verdadeiro Deus, fazendo o que quisermos, vivendo do modo que desejarmos, e escolhendo o que nos faz sentir melhor no momento. Esta é a tendência da nossa natureza pecaminosa.
 
Dessa forma, a natureza do homem caído é pecado. Se alguém nos atinge, nossa natureza é retaliar. Se vemos algo que gostamos, nossa natureza é levá-lo. Se entramos em apuros, nossa natureza é mentir. Se vemos algo agradável de alguém, nossa natureza é cobiçar. Se vemos uma pessoa bonita, nossa natureza é luxúria. Se nós experimentamos circunstâncias ou pessoas difíceis, a nossa natureza é reclamar. Esta é a nossa natureza, esse é o comportamento do pecado, que busca satisfazer a nossa velha natureza.
 
Você concorda com essa afirmativa? Ao olhar para o seu modo de vida, sua forma de fazer as coisas, para as suas ações, você percebe algum comportamento desses? O que isso revela a você?
 
Por conseguinte, veja no texto, por causa da condição, do caminho e do comportamento do pecado, Paulo fecha com uma menção à conseqüência do pecado. No final do versículo 3 ele diz que “éramos, por natureza, filhos da ira”. O que muitas pessoas não percebem é que a ira de Deus é já o veredicto final. O juízo de Deus contra a culpa do nosso pecado já é um fato determinado. João 3.18 diz que quem não crê em Jesus “já está julgado”. A pessoa que não foi alcançada pela graça de Jesus já está condenada. Hebreus 9.7 nos diz que “aos homens está ordenado morrerem uma vez, e depois vem o juízo”. O juízo aqui referido não servirá para determinar se a pessoa é ou não culpada culpa, mas sim para demonstrar a sua culpa e para executar a ira de Deus contra os culpados, separando-os eternamente da presença de Deus. Em suma, Efésios 2.1-3 está afirmando que Deus deve lidar com o pecado, que Ele deve julgar o pecado e que permanece a Sua ira sobre o pecado. Então, enquanto nós estamos mortos em nossos delitos e pecados, sobre nós permanece a ira de Deus.
 
2. A obra da graça de Deus em favor do homem (v. 4-10)
 
Em relação a isso, primeiramente vemos os meios da graça. No versículo 4 se lê: “Deus, sendo rico em misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou”. Percebe? Apesar do nosso pecado, Deus oferece a sua própria vida a cada ser humano. Já que o ser humano está morto, Deus lhe concede a vida. Isso é graça e a razão pela qual Deus deseja ser gracioso, conforme o verso 4, é devido ao seu amor e à sua misericórdia. A palavra amor aqui é agape, que significa amor incondicional. Isso significa que nenhuma quantidade de bondade pode fazer com que Deus me ama mais e nenhuma quantidade de pecado pode fazer Deus me amar menos. Ele não ama você por causa de quem você é, mas por causa de quem Ele é.
 
A palavra misericórdia, no texto, carrega a idéia de algo que retém alguma coisa, uma espécie de tampão. Enquanto que a graça significa que Deus nos dá aquilo que não merecemos, a misericórdia significa que Deus não nos dá aquilo que merecemos. E assim, enquanto Deus é justo e deve punir o pecado, Ele também é amoroso e misericordioso e não quer nos punir. Por isso, em Seu amor e misericórdia, Ele providenciou uma maneira para fazer as duas coisas.
 
Observe o milagre da graça. O versículo 5 nos diz que Deus “nos deu vida juntamente com Cristo”, quando ainda estávamos mortos em nossas transgressões. Esta vida concedida por Deus a nós, diz o texto, veio por causa da graça – “pela graça sois salvos”. Este é o milagre da graça. A palavra salvação, em grego, é soza e significa “cura” ou “aquilo que é feito ao vivo”. Através de Cristo, Sua vida perfeita, Sua morte sacrificial e Sua ressurreição corpórea, Deus tornou espiritualmente vivos aqueles que estão espiritualmente mortos. Jesus, porém, para isso, Jesus fez o inverso: Ele estava espiritualmente vivo e fez-se espiritualmente morto, afim de que aquele que estava morto se tornasse vivo. Isso não é nada menos que um milagre.
 
Mas a obra da graça de Deus em favor do homem não parou por aí. O milagre não se limitou a isto, como se isto não bastasse. Após nos dar a sua própria vida, Deus ressuscitou o Seu Filho, colocou-o à sua direita (Fp 2.9) e vai conduzir cada pessoa que está dentro da graça a viver ao lado de Jesus. A partir desse lugar de honra, a Bíblia diz que nós reinaremos com Cristo por toda a eternidade (Rm 5.17; 2Tm 2.12).
 
Por que Deus faria uma coisa dessas? Bem, no versículo 7 vemos o motivo da graça, “Para mostrar, nos séculos vindouros, a suprema riqueza da Sua graça, em bondade para conosco, em Cristo Jesus”. Em algum lugar lá fora, na eternidade, eu e você teremos o privilégio de servir como troféus da graça de Deus. O troféu traz a idéia da conquista, do prêmio alcançado por algo que fizemos. Pode ser um diploma de conclusão de curso, o título de campeão em alguma modalidade esportiva, a estrela no ombro quando somos promovidos. Este texto está dizendo que Deus vai nos exibir como troféus. Há 2000 anos, em uma colina chamada Calvário, Deus fez uma obra. Ao alcançar você, você se torna um dos troféus de Deus e Ele vai passar a eternidade exibindo esses troféus da sua graça.
 
Como é Deus quem vai ser honrado nessa obra, o trabalho da salvação é todo Dele e não nosso. Os versículo 8 e 9 afirmam: “Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie”. Estas palavras testificam que a graça de Deus é completa. Nenhuma quantidade de boas obras da nossa parte pode fazer merecer a graça de Deus. Ele está sozinho neste trabalho, independente de nossas tentativas de ganhar Seu amor e favor. O verso 10 conclui: “pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas”. Boas obras não nos salvará, mas fomos salvos para as boas obras. Martinho Lutero disse muito bem: “A graça salva, mas a graça que salva não está sozinha”. A vida de quem está em Cristo é uma vida de boas obras. É assim que a graça de Deus se manifesta em nossas vidas, para que nós, como Seu povo, tenhamos uma atitude de entrega de sua graça para a vida dos outros.
 
Observe novamente o verso 10. Ele diz que fomos “criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas”. Já parou para pensar que quando tenho uma visão contínua da graça de Deus em minha vida, me torno mais gracioso? Pessoas graciosas são generosas, estão sempre dando de si aos outros.
 
Pensando nesse texto, que tipo de boas obras ou generosidade posso fazer em uma sociedade cheia de pessoas orgulhosas, com raiva, amarguradas, sem fé em Deus e nos homens, cínicas e desiludidas?
 
Conclusão
 
A graça de Deus nos ajuda a ser o povo que Deus tem chamado para estar neste mundo. Eu me pergunto se algum de nós sente necessidade de experimentar uma renovação da graça em sua própria vida. Como um seguidor de Jesus, preciso lembrar tudo o que Deus tem feito por mim, porque me ajuda tornar-me na pessoa que Deus quer que eu seja. Ajuda-me a ser mais grato e a tornar-me numa pessoa mais graciosa. Uma pessoa graciosa reflete de maneira muito real o que significa ter Cristo no centro da sua vida.
 
O que você pode dizer sobre a graça de Deus em relação a você? Ao olhar para si mesmo, suas atitudes, sua maneira de tratar as pessoas, que diferença a graça de Deus tem feito em sua vida?
 
Texto enviado pelo Pastor Max Mauro - Cap BM
http://www.capelaniamilitar.com/2011/06/o-ser-humano-em-relacao-graca-de-deus.html

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