WCON 2024
1º  TEN COUTO DA POLÍCIA MILITAR DE PERNAMBUCO,

Integrante da força de paz da ONU no Haiti aos amigos no Brasil.   

Ola caros amigos...

quero compartilhar com vocês minhas vivencias nesses dias de caos aqui no Haiti, e descrever a situaçao dos Haitianos. Com muito pesar, escrevo; 

Bem, ontem eu estava na “log base” por volta das 16:50h, quando o terremoto aconteceu, acreditem, nenhuma montanha russa, nenhum brinquedo de game poderá superar a sensação que senti quando vi o mundo literalmente balançar a minha frente, foi incrivelmente ridículo eu achar, em primeiro momento, que estavam batendo com alguma coisa muito pesada no container que estava. Paredes do container viraram teto e não sabia onde estava em certo momento, todas as coisas do escritório começaram a cair em cima de mim, e comecei a evacuar todos que ainda estavam lá dentro sem saber o que fazer, pois tentei manter a calma depois do primeiro momento de trauma.

Existia uma canadense que esta colada ao chão, de tanto medo, tive que forçá-la a sair pra não deixá-la sozinha, Após isso o tremor continuou e aumentou e, de repente, ouvimos um barulho terrível que vinha do solo, como se alguém estivesse jogando uma bomba na gente... Isso durou tempo suficiente pra que toda a base fosse jogada de um lado pro outro bruscamente. Foi literalmente a pior sensação que já senti em minha vida, pois me senti totalmente incapaz, sem poder fazer nada diante da grandeza daquele fato. 
  
Apos o choque, abrimos todos os procedimentos de segurança e liderei um comboio inteiro com o carro que estava sob minha responsabilidade em direção ao quartel do comando geral da Minustah, pois até então existia uma boato que o prédio inteiro havia caído e que existiam muitos mortos nos escombros do edifício de 6 andares, quando fomos para o transito, o caos e o pânico estava instalado e a população em sua maioria, estavam nas ruas com medo de ficar em suas casas, tornando o transito por la um verdadeiro inferno, nas ruas, eu vi cenas que normalmente só vejo em filmes, crianças mortas nos braços dos pais, que por vez, que pediam ajuda quando viam nosso veiculo, gente morta no meio da rua, casas completamente destruídas, lacerações gravíssimas, idosos necessitando de atenção médica urgente, comigo a sensação de desespero ainda era grande, mais tive que controlar, pois de certa forma foi preparado para isso, como policial militar, quando finalmente chegamos ao meio do caminho hotel Cristofer, sede da Minustah tivemos que parar nosso comboio porque não tínhamos mais como passar pelos escombros que todas as casas da rua tinha deixado, então decidi irmos a pé em conduta de patrulha, ao alcançar finalmente nosso objetivo me deparei com um pequeno holocausto haitiano... Não poderia ser, eu não acreditava que estava acontecendo 6 andares, cheios de pessoas haviam simplesmente sido reduzido a meros escombros que nao chegam a altura sequer de um único andar. 
  
Consegui passar para a área afetada, em seguida fui informado havia um brasileiro dentre as pessoas nos escombros, ao tentar contato com a vitima soterrada até o pescoço com areia pude perceber que na verdade seria o Ten. Cel. Alexandre Santos do exercito brasileiro que havia realizado o curso da ciopaz no RJ, passamos quatros horas tentando tira-lo como podíamos, sem meios, e para isso tive que descer no meio dos escombros para ter acesso a uma pequena abertura que se encontrava em cima da cabeça dele, estando ele soterrado em posição fetal. Disse-lhe meu nome e de imediato ele começou a me chamar pedindo pra que eu não o abandonasse, disse a ele que não se preocupasse, pois, só sairia dali de duas maneiras: com ele, ou com ele, ou seja de todas as maneiras iríamos sair dali juntos, o novo cmt do brabatt o Cel. Azevedo estava soterrado no momento da colisão, mas teve sorte e conseguiu ver uma luz e saiu por ela escavando com dificuldade. Após esse fato, o senhor comandante do brabatt começou a me ajudar a tirar os materiais pra resgatá-lo juntamente com um contingente de excelentes soldados bolivianos, porem como alguns já sabem, o “after shock” ou seja, após o terremoto, se da com novos terremotos de grandeza menor que o primeiro e quando eu estava dentro do buraco para tira-lo outros tremores aconteceram e nessa hora você só tem uma opção , orar companheiro e muito bem mesmo para que você não seja mais uma vitima. Após 4 horas e meia de muito trabalho em conjunto conseguimos tirar o Ten. Alexandre são e salvo de lá, apenas com escoriações na perna, acreditem ele nasceu de novo naquele dia. a sensação de salvar uma pessoa nessa situação já e muito boa, imaginem quando essa pessoa se trata de um amigo e companheiro de farda em missão de paz! Nos abraçamos e choramos muito de alegria juntamente com todo o contingente boliviano que gritava Brasil, Bolívia, boina azul!!! Foi realmente emocionante, não trocaria por nada em minha vida uma sensação como essa. Levamos ele pra um hospital e ele foi devidamente tratado e pode agora voltar pro seio de sua família no Brasil.  
  
Quando voltava do local do desastre para a “log base” estava amanhecendo e ai amigos foi quando eu vi realmente o que o terremoto tinha feito com o pais. Foi simplesmente devastador, não tenho palavras pra descrever o que mais esse povo agüenta sofrer, além de miséria, fome, violência,  agora devastação e desolamento! Eu e o Cap. Algenor fizemos um  “pacto”. Vamos fazer a diferença aqui , não vamos simplesmente ficar de braços cruzados olhando e esperando o tempo passar, vamos fazer a diferença mesmo e elevar o nome do nosso pais e todos, assim vão saber que existem pessoas que realmente se importam com a questão catastrófica, por nos vividas em terras. somos brasileiros, muitas vezes não reconhecidos pelo trabalho que desempenhamos, vamos colocar  fortaleza da bondade em nossos corações,  humildade e, o trabalho árduo pelos necessitados que já desistiram de viver vão nos guiar e teremos nossas recompensas nos sorrisos daqueles que clamam por assistência de quem nunca viu de quem não conhece-nos que fazemos a Minustah estamos irmanados como “unpol”  a fazer tudo que estiver a nosso alcance pra que superemos essas dificuldades com louvor. não queremos e de antemão já digo, nenhum tipo de homenagem, medalha ou qualquer recompensa que seja alem de um obrigado, estamos aqui fazendo o nosso trabalho pela humanidade e como tal, iremos vencer! Não durmo a dois dias e meio e não lembro a ultima vez que me alimentei, porem não vou descansar enquanto não achar os corpos ou os sobreviventes (quisera Deus) de meus companheiros que aqui tombaram no cumprimento do dever pela paz mundial. E somente o que ensejamos. Voltaremos um dia de cabeça erguida com o sentimento de dever da missão cumprida. Obrigado a todos que nos deram qualquer tipo de apoio, a família que tanto sofre sem saber de nada, nosso muito e eterno obrigado. Mudei meu caro Deus em tão pouco tempo a concepção do que se tem e do que se deve ter pra viver feliz e em paz, já me considero um ser humano muito melhor por isso. Brasil acima de tudo, abaixo somente de Deus.

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